Advocacia 4.0: muito mais do que só consumir tecnologia!


Apesar do Direito ser uma área de atuação tradicionalmente conservadora, a Revolução 4.0 chegou para ficar também para os protegidos de Ruy Barbosa! Mas afinal, aos profissionais do Direito só cabe o papel de consumidor de tecnologias? Entendemos que não, e diremos o porquê!

 

O que é a Advocacia 4.0?


Ser um profissional da Advocacia 4.0, em linhas gerais, indica a necessidade da atuação do profissional de Direito apoiada em ferramentas digitais que otimizem a execução das suas tarefas.

Softwares de gestão de processos, robôs para atividades repetitivas e uso de algoritmos de inteligência artificial são alguns exemplos de recursos que devem ser enxergados como aliados e não vilões pelo advogado da nova era!

Mas em grande parte das discussões atuais, vemos o profissional do Direito ainda colocado no papel de mero consumidor, quase como um coadjuvante desse processo de transformação no mundo jurídico. E por que tem que ser assim? Não tem!

 

Advogados e Técnicos de TI: falando a mesma língua!


Tanto aqueles que já precisaram contratar um software jurídico, como aqueles que acompanharam a implantação de uma solução tecnológica voltada ao Direito, sentiram na pele o quão difícil é a interação entre Advogados e Técnicos de TI. Os desafios vão desde a diferença entre os vocabulários até às dificuldades em comunicar os desejos e objetivos perseguidos com a ferramenta, inclusive pela forma de pensar mais ou menos objetiva conforme quem fala.

Esta situação implora por profissionais do Direito que além de conhecerem a técnica jurídica, compreendam os princípios da gestão de projetos, consigam comunicar e concatenar etapas de tarefas de forma objetiva e, principalmente, enxergar qual o valor e objetivos da sua empresa e cliente!

Esses profissionais trazem enorme valor para:

  • Facilitar o processo de compreensão da necessidade do time jurídico;
  • Detalhar à equipe de TI quais os efetivos benefícios buscados com a implantação;
  • Diminuir a distância entre a expectativa de ganho do time jurídico e a abrangência da efetiva entrega feita pelo squad de TI;
  • Priorizar as transformações promovidas com foco nos objetivos da empresa ou escritório.


Neste cenário, vemos nascer os Analistas de Processos no Jurídico, Arquitetos de Negócios Jurídicos, Legal Designers e, para aqueles que beberam do Scrum/Ágil, surgem o Product Owner Jurídico e Legal Product Manager.

 

Inteligência "natural" para quem quer "artificial"


Não poderíamos falar de tecnologia aplicada ao Direito e deixarmos de lado o assunto do momento: a Inteligência Artificial. Para as empresas que desejam analisar um volume gigantesco de dados e realizar estimativas futuras com eles, ou para aqueles escritórios que sonham em analisar decisões e documentos, extraindo o conteúdo que interessa de forma automatizada, não há como fugir de buscar algoritmos de IA para ajudar nesta tarefa.

Mas (in)felizmente, nem tudo são flores na aplicação de Inteligência Artificial no Direito, principalmente o brasileiro! Dificuldade na compreensão dos termos técnicos e específicos da nossa prática, desafio em segregar qual sentença/acórdão deve ser considerado no treinamento da IA e qual se mostra como uma exceção a ser ponderada, bem como gerar feedbacks sobre a assertividade das avaliações e decisões tomadas pela ferramenta são alguns dos pontos pelos quais os times de tecnologia sofrem sem o apoio de alguém com know-how jurídico.

Assim, profissionais de Direito trabalhando em conjunto com a equipe de TI conseguem desmistificar essas particularidades, indicar como algumas informações devem ser interpretadas conforme a realidade jurídica nacional e, não menos importante, ajudar a treinar a Inteligência Artificial para realizar as melhores avaliações e tomadas de decisões. A atuação com este enfoque gera:

  • aumento da assertividade das avaliações da Inteligência Artificial;
  • redução do tempo médio necessário para a implantação da solução;
  • garantia de atualização e aderência da solução de IA, mesmo diante das diversas alterações legais e de precedentes judiciais gerados constantemente.

 

Diante de todos esses fatores, vemos que a chegada dos Analistas de Dados Jurídicos e dos Analistas de Jurimetria: além de muito bem-vinda, é inevitável!
 

Adaptação é o foco!


Esses exemplos servem para ilustrar como os profissionais jurídicos têm MUITO com o que contribuir na revolução do Direito, abordando a tecnologia como mais uma ferramenta de entrega de resultados, do que um competidor que tirará o seu espaço. Mas não nos enganemos, esse processo não acontece sozinho!

No campo acadêmico, as instituições de ensino, principalmente as de Direito, não seguem o mesmo ritmo que a revolução industrial impõe todos os dias. Então, para quem se interessa em incrementar sua forma de trabalho, corra atrás!

Diversifique seu conhecimento com cursos de outras áreas (alô, Profissionais T!), interajam com profissionais com outros focos e, principalmente, se interessem pelo que sua organização busca de resultados. E que venha a próxima revolução!

 

Sobre o autor


Daniel Corrêa, Gerente de Arquitetura de Soluções da Finch, é advogado especialista em Direito Civil, Processual e Trabalhista com experiência na gestão de times jurídicos, com passagens em departamento de tecnologia atuando como Product Owner.