Design de Experiência do Usuário e o futuro dos sistemas jurídicos


Como é a experiência de um usuário ao utilizar um sistema jurídico? Frequentemente é marcada por desafios que transformam a busca por seus direitos em uma verdadeira peregrinação. Desde a dificuldade em compreender seus direitos e obrigações, até a navegação em processos burocráticos lentos e complexos, cada passo dessa jornada é permeado por obstáculos que geram frustração, impotência e até mesmo descrença em resultados.

Em um cenário de insatisfação, em que o usuário não está familiarizado com a complexidade dos termos usados, pensar na experiência do usuário pode ser o caminho simplificador. Por isso, muito se fala em Visual Law e Legal Design, mas como o UX Design está em tudo isso?  

Resposta simples: está em tudo! Estes dois termos, cada vez mais famosos no direito, utilizam como base práticas do Design e UX Writing, que pode ser definido como a escrita centrada na experiência do usuário, e ambos visam facilitar a vida de quem precisa lidar com o Direito.

 

UX Writing e o Legal Design como porto seguro

 

Para pessoas não acostumadas com as linguagens metódicas e normativas do Direito, encontrar informações sobre os processos jurídicos pode ser quase como ler um texto com um dicionário na mão, procurando significado por significado. O Legal Design é uma ferramenta para simplificar a linguagem jurídica através do UX Writing, que por sua vez utiliza conceitos de UX (User Experience, ou experiência do usuário em tradução literal), para facilitar termos quase impossíveis de serem trocados.  

De forma metafórica, damos o poder ao usuário para entender facilmente o que está acontecendo com o processo e o “dicionário” que ele não conhece, tudo no mesmo lugar. 

 

Conectando pontos: Inovação, UX Design e o Direito

 

A inovação no direito vai além da criação de novas leis ou tecnologias. Por que não considerar o design centrado no usuário como o guia? Desenvolver as soluções para Operações Legais, por exemplo, utilizando UX e linguagem simplificada não é mais uma inovação: é uma necessidade para que todos consigam operar o Direito da melhor forma possível e sem ruídos. 

Ao desenvolver ferramentas de Operações Legais centradas nestes pilares, deixamos de ensinar Direito ao operador sem formação ou de explicar softwares complexos ao profissional do Direito. Simplificamos o mundo jurídico com produtos centrados nos diversos tipos de usuários e suas individualidades: potencializando nossos resultados e experiências.

 

Impacto do Design em Operações Legais

 

Em um mundo onde pessoas de diversas áreas lidam cada vez mais com termos jurídicos, nossa meta é facilitar a execução das Operações Legais. Tudo fica mais fácil quando todos entendem o quê, como e onde fazer. Combinando inovação e UX Design no contexto jurídico, podemos criar soluções que:

  • Simplificam a linguagem legal: através de ferramentas como visualização de dados, infográficos e linguagem clara, podemos tornar a informação jurídica mais acessível e compreensível para todos.
  • Aprimoram os processos judiciais: a aplicação de princípios de UX Design pode otimizar o fluxo de trabalho jurídico, tornando-o mais eficiente e transparente para todos os envolvidos.
  • Democratizam o acesso à justiça: ferramentas digitais intuitivas e plataformas online podem facilitar o acesso à justiça para pessoas de todas as origens e níveis de conhecimento jurídico.
  • Humanizam a experiência jurídica: o design centrado no usuário pode criar interfaces amigáveis e acolhedoras, tornando a experiência jurídica menos intimidante e mais positiva para todos.

 

Ao projetar sistemas jurídicos inovadores com foco no usuário, é essencial compreender profundamente suas necessidades, mapeando como utilizam nossas ferramentas. A pesquisa com o usuário (UX Research) e testes recorrentes garantem interfaces simples, claras e acessíveis para todos.

 

Construindo a ponte entre usuário e o mundo jurídico

 

Diversas ferramentas do UX Design são utilizadas para viabilizar a transformação digital do sistema jurídico. É fundamental que o primeiro passo seja ouvir o usuário. Compreendendo suas necessidades e objetivos, aplicamos várias metodologias para entender suas demandas e buscar soluções eficientes. Essa pesquisa prévia nos dá respaldo para levantarmos hipóteses, insights e avaliarmos grande parte de nossas pesquisas. 

Com foco em aprender e evoluir com o usuário, podemos utilizar também diversas metodologias, como as citadas abaixo:

  • Pesquisas de usuário: através de entrevistas, questionários e grupos focais, designers de UX desvendam as necessidades, expectativas e desafios dos usuários, traçando um mapa preciso da jornada do usuário no sistema jurídico.
  • Mapeamento da jornada do usuário: cada passo da jornada do usuário é meticulosamente mapeado, desde a busca por informações até a resolução de um conflito, identificando pontos de atrito e oportunidades de melhoria.
  • Prototipagem: através da criação de protótipos interativos, diferentes soluções de design são testadas e validadas, permitindo identificar falhas e ajustar a experiência antes da implementação final.
  • Testes de usabilidade: através da observação de usuários interagindo com os protótipos, designers de UX obtêm feedback valioso para aperfeiçoar o design e garantir que a experiência seja mais proveitosa para os usuários.

 

A inovação e o UX Design têm o potencial de transformar radicalmente os sistemas jurídicos, tornando-os mais eficientes, acessíveis e humanizados. Ao colocar as necessidades dos usuários no centro do processo de design, podemos criar soluções inovadoras que democratizam o acesso à justiça e garantem que todos tenham seus direitos respeitados.

 

Sobre o autor

 

Marcelo Rino, Coordenador de UX da Finch, Professor de Design, Doutorando em Mídia e Tecnologia, Mestre em Mídia e Tecnologia - PPGMiT UNESP, Pós graduado em Marketing pela FGV.