Finch (novo filme de Tom Hanks) humaniza os mais avançados conceitos da tecnologia atual


Em 1818, a escritora britânica Mary Shelley lançou o romance que é considerado a primeira obra de ficção científica da história, Frankenstein. De tão conhecida, parece até desnecessário mencionar que a história versa sobre um cientista que usa a tecnologia para dar vida ao seu monstro. Interessante é relembrar que Frankenstein não é o nome do monstro, mas sim, o nome do seu criador.

Assim como na obra de Shelley, o roteiro de outra ficção científica, Finch (2021), escrito por Craig Luck e Ivor Powell, aborda uma relação entre criador e criatura.

Num futuro pós-apocalíptico em que a camada de ozônio foi destruída e sol torna-se o principal inimigo da vida no planeta Terra, o engenheiro em robótica Finch (aqui também o nome do criador e não da criatura), ao perceber que está morrendo em decorrência da exposição à radiação, cria um robô com o objetivo de que a máquina cuide de seu cachorro Goodyear após a sua partida.

O nome do cientista parece não ser uma escolha aleatória. Finch é o nome de um pássaro, o Tentilhão, em Português. Essa ave, dependendo de onde se encontre no mapa mundi, desenvolveu a capacidade de adaptar o formato do seu bico para poder se alimentar melhor, conforme a comida disponível em cada ambiente. O pássaro Finch se adaptou para sobreviver, assim como o protagonista do filme. Fato curioso é que a nossa empresa também empresta do mesmo pássaro o seu nome e pelos mesmíssimo motivo: capacidade de adaptação!

Aqui está o primeiro acerto da obra: o elenco. Finch é vivido pelo astro Tom Hanks, que consegue (melhor do que qualquer outro ator em Holywood) criar um laço imediato de simpatia e familiaridade com qualquer audiência. O cão Goodyear e os dois robôs conseguem ser tão adoráveis quanto o personagem de Hanks e o público acompanha, em meio a risos e lágrimas, a trajetória desse quarteto em busca de um lugar seguro para o cãozinho. A distopia transforma-se num road movie com excelentes efeitos especiais e discussões intimistas sobre a convivência cooperativa entre humanos, máquinas e cães.

O segundo e maior acerto do filme é humanizar o robô (não se preocupe, ele ganhará um nome próprio que escondo propositalmente para não estragar a piada). Aqui, o diretor Miguel Sapochnik acerta em, sem abrir mão dos efeitos especiais, utilizar um ator (Caleb Landry Jones, muito bem no papel) para interpretar uma máquina. Caleb dá vida a um robô de tecnologia avançadíssima, mas de comportamento adolescente. É praticamente impossível não se divertir enquanto assistimos ao seu aprendizado.

E, por falar em aprendizado, um dos aspectos mais interessantes do roteiro é evidenciar, de maneira palatável, conceitos de tecnologia amplamente empregados nos nossos “robôs” de hoje em dia. A nossa empresa mesmo possui mais de 300 robôs realizando atividades inerentes ao negócio. No entanto, esses robôs são na verdade “programações” e, para os não especialistas, acabam ficando mais no campo da abstração do que no da concretude. O robô do filme materializa magistralmente conceitos como big data, inteligência artificial, machine learning (em especial o deep learning), entre outros. O espectador aprende sem saber que está lidando com conceitos complexos.

Por último, mais um ponto positivo é o foco mais na relação entre os personagens e como eles se adaptam (ao mundo e a eles mesmos) do que na distopia em si. Será que Finch vencerá a corrida contra o pouco tempo que tem de vida, para ensinar para um robô a como cuidar de outro ser vivo adequadamente e, mais do que isso, será que ele se tornará tão parecido com um ser humano, ao ponto em que ganhará a confiança de um cãozinho?

Lá no início do século XIX, Mary Shelley e o Dr. Frankenstein criaram um mostro que, por não compreender que era criatura, tornou-se uma ameaça. Duzentos anos depois, será que a criatura de Finch conseguirá entender o seu papel no mundo ou uma criação “não natural” continuará sendo sempre uma ameaça?

Por enquanto, Finch está disponível apenas através da plataforma Apple TV+. Os assinantes podem assistir clicando aqui. Bom filme.
 

​Sobre o autor

 

Bruno Aguilera, coordenador de Marketing e Comunicação da Finch, além de publicitário (Universidade Federal do Paraná) é, também, bacharel em Cinema, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Antes de se juntar ao time da Finch, teve passagens por importantes produtoras de cinema/publicidade/tv, entre elas a O2 Filmes, do diretor Fernando Meirelles.