Inteligência artificial “cria” canção inédita do Nirvana


Uma canção pode ser criada a partir do uso de Inteligência Artificial? A resposta é sim. Com os avanços ilimitados da tecnologia, a IA é capaz de produzir uma canção inédita, além de poder também imitar e recriar grandes clássicos da música mundial. E detalhe: a IA não se limita apenas à canção, ela pode reproduzir diversas áreas artísticas, assim como fez recentemente com quadros de pintores famosos, como Rembrandt, e também com textos de autores do século XX, como João Guimarães Rosa.

 

​Como funciona?

 

Mas como isso funciona? Tudo depende do banco de dados, isto é, a amostragem disponível de “conhecimento” para visualização, operação e criação da IA. A partir desta base que irá “nutri-la”, a Inteligência Artificial consegue analisar e descobrir padrões, e assim, definir estruturas possíveis e lógicas para a construção de novos “paradigmas”. Para criar e simular uma nova canção (um novo paradigma), por exemplo, o banco de dados analisado possui diversas canções, gravações de instrumentos, letras, melodias, etc., a fim que a IA entenda como uma canção funciona, qual o seu esqueleto, e como se dá o seu desenvolvimento. E em seguida, após análise, a IA está apta a simular, combinar e recriar uma canção própria!

 

O Clube dos 27

 

A partir desta mecânica explicada acima, recentemente, um grupo de pesquisadores fundou o projeto Lost Tapes of The 27 Club, em tradução livre, “Fitas Perdidas do Clube dos 27”, com o objetivo de produzir novas canções, isto é, produções inéditas, de artistas famosos mundialmente e que faleceram com 27 anos (formando, assim, o Clube dos 27). Esta coincidência da idade 27 ocorreu com vários artistas, entre eles, Kurt Cobain, Amy Winehouse, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix e Brian Jones.

No projeto, os pesquisadores utilizaram a Inteligência Artificial para compor novas canções destes artistas, a fim de homenageá-los por terem conquistado gerações e gerações de públicos variados com suas respectivas obras. Vale lembrar que praticamente nenhum humano participou das recriações, feitas exclusivamente pela IA, salvo as vozes que foram interpretadas por covers, isto é, imitadores dos artistas homenageados.

 

Quem é o compositor? IA ou artista?

 

Um dos debates da arte contemporânea está justamente na criação entre a tecnologia e o humano: por fim, de quem é a autoria? Seria possível atribuir a composição à Inteligência Artificial? Por um lado, a IA foi a responsável por analisar, remontar e produzir uma nova canção. Por outro, isso só foi possível graças à discografia do artista disponível para a análise de dados. Ou seja, a IA só produziu uma canção porque outras canções já estavam feitas, já existiam.

Porém, este não é o princípio da arte desde os primórdios? Em que nada se cria, tudo se “copia”? Existem artistas humanos sem suas próprias referências, suas fontes inesgotáveis para partirem dali à criação? Este é um debate constante e contínuo para compreendermos os próximos passos da arte contemporânea, intrínseca à tecnologia. E estas perguntas são apenas um resumo simples dos possíveis percursos que a discussão pode trilhar.

 

Ouça uma canção criada por Inteligência Artificial

 

Uma das canções de destaque do projeto é Drowned in the sun, criada a partir da discografia do Nirvana.

Clique aqui para ouvir a canção do Nirvana produzida a partir de Inteligência Artificial.

E para saber mais sobre o projeto Lost Tapes of The 27 Club, clique aqui.

 

Sinuhe LP é analista de Marketing e Comunicação da Finch, além de escritor e compositor. Estudou Midialogia na Unicamp, publicou o livro de poesia visual Manual do Olho (Ed. Urutau, 2018) e lançou o álbum de canções Olhos Que Molham (2019).